sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Não sei bem como começar isso aqui. A dor é uma parcela da experiência humana que a gente não deseja partilhar,mas que nos ajuda a crescer e aliviar o coração. Hoje cessou a tua longa agonia, bem as 16h30 de um dia ensolarado de verão, bem hoje no dia 22/01. Teus 17 anos deviam ter outro destino. Nada de quimios, radios, cirurgias, tubos de soro, máscaras de oxigênio, doses cavalares de metadonas, de morfinas e outras inas. Em torno de ti, em torno de ti outras coisas deviam estar ao teu redor: dias ensolarados, de praia e de futebol, a bola rolando no campo, a dividida aquela que tu ganhou e que fez tu marcar aquele gol de bicicleta, a tal cabeçada certeira que fez tu ganhar a posição de atacante. Aham, de mãos dadas com a tua juventude deviam andar as histórias com tuas namoradinhas, as brincadeiras e travessuras com teu mano, os teus amigos de fé, a tua formatura, a tua preparação pro vestibular, os tais projetos que iam virar realidade. A parafernália que manteve tua dor controlada desde os quatorze anos não eram pra fazer parte desse script. Nesse lugar, ali na oncologia pediátrica, onde tantas vezes te vi, existe uma pálida lembrança de que a infância é feliz. As crianças os jovens todos ficam monocromáticos, as cores do arco-íris fugiram todas pela janela pra invadir a pracinha onde eles não podem pisar. Tudo é monocromático e cinzento, mas a esperança é uma força motriz, verde, grandona que vai ficando pequena e frágil cada vez que um dos leõezinhos sucumbem à violência das garras desse monstro chamado câncer.