O tumulto na redenção ainda vai reabrir a discussão de cercar o parque. Pra quê? De que adianta cercar o parque, se a violência já fugiu do controle?
O que mais espanta nesse fato? Serem jovens, menores e tcharam... armados. Armados de modernidade inclusive pra combinar pela internet um acerto de contas.Não apenas combinaram, como concretizaram. Mais, escolheram um palco. Aliás, que palco.A redenção: um dos mais frequentados parques da cidade. Escolheram um dia especial, é claro, o domingo, talvez porque lá haveria de ter mais platéia.
A violência tão conhecida nos morros, nas vilas e nos seus guetos veio parar no parque. No domingão de sol em vez de chimarrão, namoro, sossego, leitura, roda de violão, teve em contrapartida confronto, tiros, saldo de alguns feridos e pasmem morte.
Pois dos guetos aos poucos os meninos descem e ganham o asfalto, os parques, as ruas, os shoppings, as praças e certamente ganharão mais espaço para sua ações, enquanto nada for feito.
Cercar parques será a solução? Passar em revista os meninos que fazem parte dos bondes? Muitas discussões serão retomadas acerca da segurança pública.
Pouco, entretanto, ao longo desses anos tem sido feito para proteger a infância e juventude abandonada. No lugar de papel, caneta, livro, esporte, capoeira, namoro, futebol,alegria, profissão, voz e futuro; conhecem a linguaguem da agressão, briga, drogas, exclusão e armas e usam a linguagem que conhecem pra participar de outro time: o dos jovens contraventores. Engrossam essas fileiras, fazem parte das estatísticas horrendas sobre violência crescente, sempre lembrada nas campanhas políticas, esquecidas logo em seguida após as campanhas.
É esse Porto podia vir acompanhado de outro nome. De Alegre já deixou algum tempo de ser. Me diga e me convença então se o preço por não investir em educação, oportunidades e inclusão social nada tem a ver com essas estatísticas, nada tem a ver com o fato de não se repartir melhor o bolo?
O velho índio tinha razão.
terça-feira, 2 de março de 2010
segunda-feira, 1 de março de 2010
Para uma canina chamada Brenda
Dezembro, janeiro, fevereiro. Hoje, 1º de março de 2010, às 13h30, eu e a Isa nos despedimos da nossa amiguinha de quatro patas e cheia de pintas: a Brenda. Com apenas onze anos ela cruzou a linha divisória, aquela que todos nós sabemos que vamos cruzar dia mais, dia menos, querendo ou não querendo, em pleno vigor e força da juventude ou não, cheios de planos ou não. De lá pra cá, a aparência dela mudou muito e tanto a ponto de a gente quase não reconhecer hoje quando a vimos pela última vez.
Dizem que devemos ficar muito felizes com o amor de uma criança ou de um cãozinho pela gente porque se é que nessa vida existe amor sincero é o que eles dedicam a nós. Então me dou por feliz pelo amor que a Brendoca dedicou a nós nesses onze anos.
Li em algum lugar o seguinte: "Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade." Tá, isso vale, mas só para os da espécie dita racional. Então como fazer pra reconhecer a quantidade e qualidade da amizade que os nossos amigos de quatro patas nos dedicam? Muito simples: é só reparar na capacidade ilimitada de se satisfazerem com o pouco ou o quase nada que oferecemos a eles, tipo: uma migalha de atenção. Pronto, um pouquinho que seja e já basta pra manter aceso o amor desses bichanos pelo dono. Logo, será que existe amor e amizade maior que essa? Vai saber, só se for no outro mundo. De qualquer forma, fico feliz por nunca ter abandonado a minha amiguinha de quatro patas. E pra minha canina chamada Brenda só posso dizer que sei que partiu hoje pra se juntar a uma matilha em um outro plano bem mais legal e iluminado que esse daqui, com certeza.
Dizem que devemos ficar muito felizes com o amor de uma criança ou de um cãozinho pela gente porque se é que nessa vida existe amor sincero é o que eles dedicam a nós. Então me dou por feliz pelo amor que a Brendoca dedicou a nós nesses onze anos.
Li em algum lugar o seguinte: "Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade." Tá, isso vale, mas só para os da espécie dita racional. Então como fazer pra reconhecer a quantidade e qualidade da amizade que os nossos amigos de quatro patas nos dedicam? Muito simples: é só reparar na capacidade ilimitada de se satisfazerem com o pouco ou o quase nada que oferecemos a eles, tipo: uma migalha de atenção. Pronto, um pouquinho que seja e já basta pra manter aceso o amor desses bichanos pelo dono. Logo, será que existe amor e amizade maior que essa? Vai saber, só se for no outro mundo. De qualquer forma, fico feliz por nunca ter abandonado a minha amiguinha de quatro patas. E pra minha canina chamada Brenda só posso dizer que sei que partiu hoje pra se juntar a uma matilha em um outro plano bem mais legal e iluminado que esse daqui, com certeza.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Não sei bem como começar isso aqui. A dor é uma parcela da experiência humana que a gente não deseja partilhar,mas que nos ajuda a crescer e aliviar o coração. Hoje cessou a tua longa agonia, bem as 16h30 de um dia ensolarado de verão, bem hoje no dia 22/01. Teus 17 anos deviam ter outro destino. Nada de quimios, radios, cirurgias, tubos de soro, máscaras de oxigênio, doses cavalares de metadonas, de morfinas e outras inas. Em torno de ti, em torno de ti outras coisas deviam estar ao teu redor: dias ensolarados, de praia e de futebol, a bola rolando no campo, a dividida aquela que tu ganhou e que fez tu marcar aquele gol de bicicleta, a tal cabeçada certeira que fez tu ganhar a posição de atacante. Aham, de mãos dadas com a tua juventude deviam andar as histórias com tuas namoradinhas, as brincadeiras e travessuras com teu mano, os teus amigos de fé, a tua formatura, a tua preparação pro vestibular, os tais projetos que iam virar realidade. A parafernália que manteve tua dor controlada desde os quatorze anos não eram pra fazer parte desse script. Nesse lugar, ali na oncologia pediátrica, onde tantas vezes te vi, existe uma pálida lembrança de que a infância é feliz. As crianças os jovens todos ficam monocromáticos, as cores do arco-íris fugiram todas pela janela pra invadir a pracinha onde eles não podem pisar. Tudo é monocromático e cinzento, mas a esperança é uma força motriz, verde, grandona que vai ficando pequena e frágil cada vez que um dos leõezinhos sucumbem à violência das garras desse monstro chamado câncer.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Do grafite à Poesia
Graffiti
Même si vous ne
le voyez pas d'un
beau oeil
le paysage n'est
pas laid
c'est votre oeil
qui
peut-être est mauvais.
(PRÉVERT, OC.I, Grand Bal du Printemps, 1992)
Grafite
Mesmo que você não
veja com
bons olhos
A paisagem não é
feia
É seu olho
que
talvez esteja ruim.
O grafite e a poesia têm algo em comum? Sim, o intencional desejo de comunicar com liberdade sua visão de mundo. O grafite, acho, foi o tema que Prévert usou pra dizer que assim como a liberdade de expressar-se pela imagem a de expressar-se pela palavra para o poeta é fundamental no universo de criação e que o fato de não olharmos com bons olhos não significa que não encerrem ali toda a beleza na imagem-poesia. Vida longa então aos grafiteiros e poetas que interferem na paisagem e pintam e bordam e recriam o universo com suas imagens-palavras.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Da muralha da china ao muro de berlim
Nenhuma construção humana é visível a olho nu da Lua, nem mesmo a Muralha da China, muito embora a magnitude da construção. O muro de Berlim tampouco se prestaria a tal façanha, mas uma coisa é certa, cada vez que muros como esses caem há motivo pra muita festa. Não sem razão, a queda do muro de Berlim significou algo muito maior, não só a queda de barreiras que dividiam socialistas e capitalistas, mas a reunião de famílias que haviam sido separadas, como uma vez relatou uma professora de alemão. E ainda que decorridos vinte anos do fato, há lugar para muita celebração e visibilidade no mundo inteiro, mesmo que a vitória seja a do capitalismo.
Visíveis ou não, os muros existem e por toda parte. No Brasil e no mundo, a gente poderia citar vários: sociais, raciais, econômicos, religiosos, sexistas, enfim são muitos e não param de se multiplicar.
Mas o incrível ou nem tanto nessa história é a imensa capacidade humana para criar essas divisórias gigantescas, ainda que invisíveis. E para justificar sua existência não faltam razões e, pior, todas muito bem fundamentadas em sólidos pilares: os da ignorância, intolerância, arrogância e vaidade.
O certo é que os muros tem muito mais a dizer sobre nós mesmos do que a gente possa imaginar. Arrisco um palpite: se outras civilizações planetárias viessem dar um 'rolê' por aqui, perplexos indagariam: seriam humanos os habitantes deste planeta?
domingo, 8 de novembro de 2009
Os Últimos Gigantes
« Au cours d’une promenade sur les docks, Archibald Leopold Ruthmore acheta l’objet qui devait à jamais transformer sa vie : une énorme dent couverte de gravures étranges. »
Durante um passeio ao longo do cais, Archibal Leopold Ruthmore compra um objeto que mudaria sua vida para sempre: um enorme dente esculpido com gravuras estranhas.
E assim começa o texto de François Place, encenado pela Companhia de Teatro Détours no Auditório Barbosa Lessa. Esse conto de gente grande fala da história de uma expedição, de uma viagem, feita de sonho, de tinta, de partida e de loucura.
O espetáculo poderia ser comparado a própria história do mundo, do homem, naquilo que possui de mais belo, de mais insano, de mais fraternal, mas também de mais terrível, a história do encontro com o outro e do que é feito disso.
Mas do espetáculo o que mais impressiona não é somente a fábula pra gente de toda idade, mas a forma genial como a Companhia de Teatro Détours da França nos apresenta esse texto, onde a música e a narração interagem o tempo todo, levando o público a sentir as mesmas alegrias, incertezas, dúvidas, tristezas e perplexidades vividas por Archibal, o personagem cuja trajetória obstinada rumo à terra dos gigantes, nos remete invariavelmente à reflexão sobre a triste história da humanidade e sobre o mal que muitas vezes fazemos uns aos outros, mesmo que por vezes de forma involuntária.
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